O ROMANTISMO EM PORTUGAL
O Romantismo em Portugal surgiu no século XIX. Nas artes plásticas o Romantismo é normalmente encarado como um movimento oposto ao Neoclassicismo, por ser uma reação à excessiva racionalidade clássica, negando os princípios de harmonia, ordem e proporção. A questão é, no entanto, um pouco mais complexa, porque ambos se completam e revelam ser as duas fases de um mesmo objeto. É obvio que existem elementos díspares ou mesmo opostos, como sentimento e razão ou o indivíduo versus o todo, mas essas diferenças complementam-se, principalmente nas artes plásticas, porque o movimento neoclássico já é uma atitude romântica ao virar-se para o passado. Quer dizer, o todo só faz sentido com o indivíduo, tal como a razão é inseparável do sentimento, não se podendo por a tónica em nenhuma porque estão interligadas. Nesse sentido o Romantismo surge nas artes quase naturalmente quando os artistas se apercebem da impossibilidade de negar certos aspectos da criatividade humana. Pode, então, ser caracterizado como um apelo ao individualismo, exaltando o sentimento, a emoção e a genialidade.[1]
Os primeiros anos do século XIX são muito complexos, devido essencialmente à sucessão de problemas políticos, nomeadamente a fuga da família real para o Brasil em 1807, devido às invasões francesas, posterior/consequente domínio inglês, revolução liberal em 1820, regresso da família real em 1821, independência do Brasil, a perda do comércio colonial com a antiga colónia em 1822 (dramático golpe na economia portuguesa), contra revolução absolutista e, finalmente, guerras liberais, conservando a instabilidade até 1834. Esta conjuntura só permite o desenvolvimento de condições propícias à eclosão de um novo estilo artístico no final dos anos 1930 do século XIX. Apesar de em Portugal surgir relativamente cedo na literatura, em finais do século XVIII com alguns pré- românticos, nas restantes formas artísticas desenvolve-se apenas com o impulso de dado por D. Fernando II, marido de D. Maria II, ao iniciar a construção do Palácio Nacional da Pena, após a estabilização da conjuntura nacional.
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As Pupilas do Senhor Reitor, de Júlio Dinis
Análise da obra
As Pupilas do Senhor Reitor, de Júlio Dinis, primeiro romance português do século, publicado inicialmente em 1866 em forma de folhetim, e só no ano seguinte apareceria em livro. Seu caráter moralizador e a religiosidade que perpassa por todo o romance, a bondade capaz de chegar a extremos quase incríveis de sacrifício pessoal, são alguns dos ingredientes que transformaram em muito pouco tempo o autor desconhecido em sucesso nacional.
A calma da cidade do interior (Ovar - Portugal) e a observação da vida simples das pessoas da aldeia propiciaram o aparecimento desse romance que, algum tempo depois, se tornaria um dos mais famosos em Portugal.
Os capítulos são tipicamente folhetinescos: unidades narrativas com peripécias e final em suspensão. É um romance está cheio de ironias bem humoradas, tornando-o, apesar do moralismo intencional, de leitura mais agradável.
Como costuma acontecer com escritores românticos, Júlio Dinis também vê o mundo com as lentes do maniqueísmo. Assim, assenta sua obra em um jogo contínuo de oposições. Entre as principais, destacam-se: A cidade - O campo / A modernidade - A tradição / O desejo - O amor.
Temática
O romance gira em torno da tese segundo a qual a vida simples e natural torna as pessoas alegres e felizes. Júlio Diniz descreve o campo, os tipos humanos, os hábitos e as idéias, desenvolvendo toda uma problemática pequeno-burguesa, com o "propósito de pregar uma moralização de costumes pela vida rural e pela influência de um clero convertido ao liberalismo".
Foco narrativo
O foco narrativo organiza-se através de um narrador que conta a história em terceira pessoa, sem se confundir com nenhum dos personagens, a respeito dos quais tem uma visão onisciente. Assim, conhece-os de forma absoluta, em seu mundo interior e exterior, em suas ações e motivações íntimas.
A forma didática como o narrador conduz a leitura da obra, ora descrevendo a interioridade de um personagem, ora se colocando como mero cronista que registra os acontecimentos, caracteriza-o como alguém que narra para um tipo específico de leitor: o leitor de jornal, que lê o romance de maneira descontínua e cuja atenção deve ser constantemente alimentada.
Tempo / Espaço
O tempo histórico é o presente, como convinha a um autor pré-Realista que preconizava a substituição do maravilhoso psicológico pelo romance de costumes. E presente, neste caso, é o início da segunda metade do século XIX.
Quanto ao tempo narrativo, não se pode precisar a extensão, mas trata-se de alguns anos, que vão da infância de Daniel, passam pelo tempo em que faz Medicina no Porto, seu regresso e a introdução, em um tempo narrativo mais acelerado, das principais ações da trama, isto é, o período dos escândalos na aldeia até a descoberta do amor.
Toda a ação transcorre em uma aldeia típica de Portugal. Seus costumes, suas festas, seus valores e personagens. Da estada para tratamento de saúde em Ovar, interior de Portugal, são as memórias que o autor utiliza na composição de seu romance. Os costumes rurais portugueses, incluindo aí as maledicências, as beatas de verniz, mas também os valores positivos do agricultor próspero, cuja moral do trabalho Júlio Dinis dá como modelo social.
A obra se caracteriza por reforçar o velho motivo literário "fugere urbem" (fugir da cidade). Assim, a natureza é o grande cenário, repleto de abundância, de belezas nostalgicamente evocadas, e daquele caráter de mãe que provê e beneficia o cultivo das tradições.
Personagens
As personagens são autênticas, são cópias do natural, das pessoas que vivem no campo: o João Semana é o retrato fiel do cirurgião João José da Silveira, que no tempo da estada de Júlio Diniz em Ovar, exercitou a profissão médica com grande sucesso, naquela região.
Daniel - O segundo filho de José das Dornas. Franzino, volúvel e irresponsável, principalmente em relação à mulheres. Em tudo diferente do irmão. Detesta o trabalho no campo, começa estudando latim e finalmente vai para a cidade do Porto, de onde volta muitos anos depois, já médico formado. É um estróina que inquieta o sossego da aldeia, fazendo vibrarem os corações femininos e provocando a antipatia de quase toda a aldeia com sua mania de conquistador. Representa, no romance, o tema romântico do resgate através do amor. Tocado pelo amor, muda de vida, torna-se um homem sério.
Guida - A irmã mais velha de Clara. Filha de um primeiro casamento, seu pai, viúvo, casa em segundas núpcias, mas não sobrevive muito tempo à primeira esposa. Ao perder o pai, Margarida recebe tratamento cruel da madrasta, a quem serve de empregada. Vive uma infância solitária de trabalhos duros, como o de pastora. Passa os dias isolada nos campos e montes, onde seu único consolo e o menino Daniel, a quem ama apaixonadamente. Neste romance, é Margarida que representa o papel da bondade a qualquer preço.
Autodidata, torna-se a mestra dos meninos da aldeia. Ela é fada, que só pensa na felicidade alheia, que se anula para que a irmã seja feliz, mas que, no fundo, escondidamente, sofre terrivelmente por frustração amorosa. Esta personagem representa a dimensão realista do romance, porque, embora seja uma típica heroína romântica, capaz da bondade e do perdão, a amargura que sente em decorrência de uma infância solitária e infeliz, repleta de maus tratos e de pobreza, alia-se à instrução que a diferencia dos outros personagens e faz com que veja as contradições, as injustiças sociais, revitalizando o idealismo romântico da obra.
Clara - Das duas pupilas, ela é a mais nova. Única herdeira dos pais mortos, filha de um segundo casamento (sua mãe era proprietária rural), era moça alegre, dada também a cantorias. Um pouco leviana, mas regenerada por algumas das vicissitudes por que passa, como castigo por sua leviandade. Torna-se noiva de Pedro, com quem deverá casar brevemente, mas impressiona-se com Daniel, quando este regressa do Porto. Cede aos galanteios do moço sem perceber as conseqüências de sua atitude, a qual nada possui de maliciosa, sua leviandade não chega a comprometer-lhe o caráter, cuja nobreza percebe-se pela amizade que dedica a Guida, pela preocupação em reparar os males da infância.
Pedro - Filho mais velho de José das Dornas. Em tudo semelhante ao pai: robustez, disposição. Ingênuo, mas alegre, dado a cantorias, muito ligado à vida do campo. Apaixona-se por Clara, de quem fica noivo. Jovem aldeão cuja pureza, simplicidade e alegria pela vida exemplificam a visão romântica pela existência rural predominante na obra e reforçada pelo desfecho: a união entre os dois pares amorosos, Pedro e Clara, Daniel e Guida.
José das Dornas - Lavrador abastado, mas humilde e humano, por volta de 60 anos, homem alegre, encarnação do pensamento positivo do autor. Um viúvo forte e rijo, de formação moral tradicional. Mandar o filho para a cidade, para estudar, não é propriamente pensamento seu, mas ao fazê-lo torna-se o arquétipo dos agricultores de sua situação no país.
Padre Antônio - É o senhor Reitor, o pároco local, uma espécie de anjo benfazejo, onipresente, incansável, providencial. Destaca-se entre os personagens por sua função de porta-voz do narrador, o que percebe-se por sua presença estratégica e definidora dos rumos seguidos ao longo do romance, nos quais interfere diretamente como um arquiteto da história. Com o "evangelho no coração" ela não apenas representa a imagem do religioso autêntico, militante, cuja vida é dedicada aos outros, especialmente às pupilas, mas configura um personagem nuclear do romance, sendo porta-voz dos valores que Júlio Dinis quer transmitir às massas, utilizando um velho pároco de aldeia como exemplo vivo da força e da austeridade desses valores.
João da Esquina - Merceeiro que, com sua família, centraliza as fofocas locais. O plano de casar Francisca, sua desmiolada filha, com Daniel, rico herdeiro, ao falhar, torna-o um inimigo irreconciliável dos "das Dornas".
D. Tereza e Francisca - Respectivamente, esposa e filha de João da Esquina.
João Semana - O único médico da aldeia, até que Daniel regresse do Porto. Conservador, nacionalista fervoroso, contador de anedotas picantes sobre frades. Encarna a solidariedade comunitária, com sua medicina-apostolado, a vida sem outro sentido que não seja a prática do bem e a preocupação com os problemas alheios. Personagem secundário no romance.
Joana - Criada de João Semana, fiel e maternal. Forte, persuasiva, de coração grande, sempre à disposição do médico, seu amo.
Notas
1. O reitor, o lavrador José das Dornas e o médico João Semana representam o caráter de livro-instrumento do romance para transmitir ao leitor, com seu comportamento exemplar, de sua autoridade moral, de sua interferência benéfica na vida da comunidade, uma visão educativa da tradição como um valor que deve ser preservado e respeitado.
2. O reitor, sua "pupilas" Guida e Clara, os rapazes a quem amam, Pedro e Daniel e José das Dornas, pai de ambos, constituem os personagens principais do romance.
3. Cada par de irmãos se caracteriza por apresentar personalidades antagônicas - antítese fundamentada na posição entre razão e emoção:
Pedro, jovem de robustez adquirida pelo trabalho no campo, constitui uma pessoa decidida, orienta seu comportamento, ou tenta fazê-lo, pela racionalidade: seu destino de herdeiro do latifúndio, já traçado, não os desestabiliza. O irmão Daniel, por sua vez, constitui o avesso de Pedro: desajeitado, passional e frágil de corpo, conduz-se pela impetuosidade das emoções. Por isso, sua vida é tortuosa e ele freqüentemente se encontra em situações delicadas.
Da mesma forma, isto é, o mesmo tipo de oposição de caráter pode ser notado em relação à Clara e à Guida, que são irmãs por parte de pai. Margarida, jovem sensata, arquiteta sua existência a partir de pilares sólidos, tias como a racionalidade e a virtude; introspectiva, calada, sofre suas decepções sentimentais sem testemunhas. Já Clara é o contrário: alegre, extrovertida, boa e meiga, ela no entanto não possui a maturidade de Margarida. Sendo assim, freqüentemente tem problemas, decorrentes de suas reações emocionais.
Enredo
Uma aldeia portuguesa do século XIX é o cenário ideal para o desenrolar de uma delicada trama: o amor e os desencontros entre as órfãs Clara e Guida. Cenário este, povoado de tipos humanos cuja bondade só é maculada pelo moralismo quase ingênuo de comadres fofoqueiras, desenrola-se o drama amoroso.
As Pupilas do Senhor Reitor, de Júlio Dinis, primeiro romance português do século, publicado inicialmente em 1866 em forma de folhetim, e só no ano seguinte apareceria em livro. Seu caráter moralizador e a religiosidade que perpassa por todo o romance, a bondade capaz de chegar a extremos quase incríveis de sacrifício pessoal, são alguns dos ingredientes que transformaram em muito pouco tempo o autor desconhecido em sucesso nacional.
A calma da cidade do interior (Ovar - Portugal) e a observação da vida simples das pessoas da aldeia propiciaram o aparecimento desse romance que, algum tempo depois, se tornaria um dos mais famosos em Portugal.
Os capítulos são tipicamente folhetinescos: unidades narrativas com peripécias e final em suspensão. É um romance está cheio de ironias bem humoradas, tornando-o, apesar do moralismo intencional, de leitura mais agradável.
Como costuma acontecer com escritores românticos, Júlio Dinis também vê o mundo com as lentes do maniqueísmo. Assim, assenta sua obra em um jogo contínuo de oposições. Entre as principais, destacam-se: A cidade - O campo / A modernidade - A tradição / O desejo - O amor.
Temática
O romance gira em torno da tese segundo a qual a vida simples e natural torna as pessoas alegres e felizes. Júlio Diniz descreve o campo, os tipos humanos, os hábitos e as idéias, desenvolvendo toda uma problemática pequeno-burguesa, com o "propósito de pregar uma moralização de costumes pela vida rural e pela influência de um clero convertido ao liberalismo".
Foco narrativo
O foco narrativo organiza-se através de um narrador que conta a história em terceira pessoa, sem se confundir com nenhum dos personagens, a respeito dos quais tem uma visão onisciente. Assim, conhece-os de forma absoluta, em seu mundo interior e exterior, em suas ações e motivações íntimas.
A forma didática como o narrador conduz a leitura da obra, ora descrevendo a interioridade de um personagem, ora se colocando como mero cronista que registra os acontecimentos, caracteriza-o como alguém que narra para um tipo específico de leitor: o leitor de jornal, que lê o romance de maneira descontínua e cuja atenção deve ser constantemente alimentada.
Tempo / Espaço
O tempo histórico é o presente, como convinha a um autor pré-Realista que preconizava a substituição do maravilhoso psicológico pelo romance de costumes. E presente, neste caso, é o início da segunda metade do século XIX.
Quanto ao tempo narrativo, não se pode precisar a extensão, mas trata-se de alguns anos, que vão da infância de Daniel, passam pelo tempo em que faz Medicina no Porto, seu regresso e a introdução, em um tempo narrativo mais acelerado, das principais ações da trama, isto é, o período dos escândalos na aldeia até a descoberta do amor.
Toda a ação transcorre em uma aldeia típica de Portugal. Seus costumes, suas festas, seus valores e personagens. Da estada para tratamento de saúde em Ovar, interior de Portugal, são as memórias que o autor utiliza na composição de seu romance. Os costumes rurais portugueses, incluindo aí as maledicências, as beatas de verniz, mas também os valores positivos do agricultor próspero, cuja moral do trabalho Júlio Dinis dá como modelo social.
A obra se caracteriza por reforçar o velho motivo literário "fugere urbem" (fugir da cidade). Assim, a natureza é o grande cenário, repleto de abundância, de belezas nostalgicamente evocadas, e daquele caráter de mãe que provê e beneficia o cultivo das tradições.
Personagens
As personagens são autênticas, são cópias do natural, das pessoas que vivem no campo: o João Semana é o retrato fiel do cirurgião João José da Silveira, que no tempo da estada de Júlio Diniz em Ovar, exercitou a profissão médica com grande sucesso, naquela região.
Daniel - O segundo filho de José das Dornas. Franzino, volúvel e irresponsável, principalmente em relação à mulheres. Em tudo diferente do irmão. Detesta o trabalho no campo, começa estudando latim e finalmente vai para a cidade do Porto, de onde volta muitos anos depois, já médico formado. É um estróina que inquieta o sossego da aldeia, fazendo vibrarem os corações femininos e provocando a antipatia de quase toda a aldeia com sua mania de conquistador. Representa, no romance, o tema romântico do resgate através do amor. Tocado pelo amor, muda de vida, torna-se um homem sério.
Guida - A irmã mais velha de Clara. Filha de um primeiro casamento, seu pai, viúvo, casa em segundas núpcias, mas não sobrevive muito tempo à primeira esposa. Ao perder o pai, Margarida recebe tratamento cruel da madrasta, a quem serve de empregada. Vive uma infância solitária de trabalhos duros, como o de pastora. Passa os dias isolada nos campos e montes, onde seu único consolo e o menino Daniel, a quem ama apaixonadamente. Neste romance, é Margarida que representa o papel da bondade a qualquer preço.
Autodidata, torna-se a mestra dos meninos da aldeia. Ela é fada, que só pensa na felicidade alheia, que se anula para que a irmã seja feliz, mas que, no fundo, escondidamente, sofre terrivelmente por frustração amorosa. Esta personagem representa a dimensão realista do romance, porque, embora seja uma típica heroína romântica, capaz da bondade e do perdão, a amargura que sente em decorrência de uma infância solitária e infeliz, repleta de maus tratos e de pobreza, alia-se à instrução que a diferencia dos outros personagens e faz com que veja as contradições, as injustiças sociais, revitalizando o idealismo romântico da obra.
Clara - Das duas pupilas, ela é a mais nova. Única herdeira dos pais mortos, filha de um segundo casamento (sua mãe era proprietária rural), era moça alegre, dada também a cantorias. Um pouco leviana, mas regenerada por algumas das vicissitudes por que passa, como castigo por sua leviandade. Torna-se noiva de Pedro, com quem deverá casar brevemente, mas impressiona-se com Daniel, quando este regressa do Porto. Cede aos galanteios do moço sem perceber as conseqüências de sua atitude, a qual nada possui de maliciosa, sua leviandade não chega a comprometer-lhe o caráter, cuja nobreza percebe-se pela amizade que dedica a Guida, pela preocupação em reparar os males da infância.
Pedro - Filho mais velho de José das Dornas. Em tudo semelhante ao pai: robustez, disposição. Ingênuo, mas alegre, dado a cantorias, muito ligado à vida do campo. Apaixona-se por Clara, de quem fica noivo. Jovem aldeão cuja pureza, simplicidade e alegria pela vida exemplificam a visão romântica pela existência rural predominante na obra e reforçada pelo desfecho: a união entre os dois pares amorosos, Pedro e Clara, Daniel e Guida.
José das Dornas - Lavrador abastado, mas humilde e humano, por volta de 60 anos, homem alegre, encarnação do pensamento positivo do autor. Um viúvo forte e rijo, de formação moral tradicional. Mandar o filho para a cidade, para estudar, não é propriamente pensamento seu, mas ao fazê-lo torna-se o arquétipo dos agricultores de sua situação no país.
Padre Antônio - É o senhor Reitor, o pároco local, uma espécie de anjo benfazejo, onipresente, incansável, providencial. Destaca-se entre os personagens por sua função de porta-voz do narrador, o que percebe-se por sua presença estratégica e definidora dos rumos seguidos ao longo do romance, nos quais interfere diretamente como um arquiteto da história. Com o "evangelho no coração" ela não apenas representa a imagem do religioso autêntico, militante, cuja vida é dedicada aos outros, especialmente às pupilas, mas configura um personagem nuclear do romance, sendo porta-voz dos valores que Júlio Dinis quer transmitir às massas, utilizando um velho pároco de aldeia como exemplo vivo da força e da austeridade desses valores.
João da Esquina - Merceeiro que, com sua família, centraliza as fofocas locais. O plano de casar Francisca, sua desmiolada filha, com Daniel, rico herdeiro, ao falhar, torna-o um inimigo irreconciliável dos "das Dornas".
D. Tereza e Francisca - Respectivamente, esposa e filha de João da Esquina.
João Semana - O único médico da aldeia, até que Daniel regresse do Porto. Conservador, nacionalista fervoroso, contador de anedotas picantes sobre frades. Encarna a solidariedade comunitária, com sua medicina-apostolado, a vida sem outro sentido que não seja a prática do bem e a preocupação com os problemas alheios. Personagem secundário no romance.
Joana - Criada de João Semana, fiel e maternal. Forte, persuasiva, de coração grande, sempre à disposição do médico, seu amo.
Notas
1. O reitor, o lavrador José das Dornas e o médico João Semana representam o caráter de livro-instrumento do romance para transmitir ao leitor, com seu comportamento exemplar, de sua autoridade moral, de sua interferência benéfica na vida da comunidade, uma visão educativa da tradição como um valor que deve ser preservado e respeitado.
2. O reitor, sua "pupilas" Guida e Clara, os rapazes a quem amam, Pedro e Daniel e José das Dornas, pai de ambos, constituem os personagens principais do romance.
3. Cada par de irmãos se caracteriza por apresentar personalidades antagônicas - antítese fundamentada na posição entre razão e emoção:
Pedro, jovem de robustez adquirida pelo trabalho no campo, constitui uma pessoa decidida, orienta seu comportamento, ou tenta fazê-lo, pela racionalidade: seu destino de herdeiro do latifúndio, já traçado, não os desestabiliza. O irmão Daniel, por sua vez, constitui o avesso de Pedro: desajeitado, passional e frágil de corpo, conduz-se pela impetuosidade das emoções. Por isso, sua vida é tortuosa e ele freqüentemente se encontra em situações delicadas.
Da mesma forma, isto é, o mesmo tipo de oposição de caráter pode ser notado em relação à Clara e à Guida, que são irmãs por parte de pai. Margarida, jovem sensata, arquiteta sua existência a partir de pilares sólidos, tias como a racionalidade e a virtude; introspectiva, calada, sofre suas decepções sentimentais sem testemunhas. Já Clara é o contrário: alegre, extrovertida, boa e meiga, ela no entanto não possui a maturidade de Margarida. Sendo assim, freqüentemente tem problemas, decorrentes de suas reações emocionais.
Enredo
Uma aldeia portuguesa do século XIX é o cenário ideal para o desenrolar de uma delicada trama: o amor e os desencontros entre as órfãs Clara e Guida. Cenário este, povoado de tipos humanos cuja bondade só é maculada pelo moralismo quase ingênuo de comadres fofoqueiras, desenrola-se o drama amoroso.
SUGESTÃO DE ATIVIDADES
1. 1. Faça um esboço das principais informações do texto, O romantismo em Portugal ( uma aula)
2. Pesquise no link: www.coladaweb.com › Literatura - Em cache - Similares alguns escritores do Romantismo português. Faça um breve histórico biográfico de dois autores. ( uma aula)3. Faça o fichamento da obra : As pupilas do senhor Reitor. Siga o roteiro abaixo. ( duas aulas)
a. Autor:
b. Personagens principais:
c. Outros personagens:
d. Foco narrativo:
e. Enredo:
f. Descrição do personagem que mais gostou:
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